Monólogo de Maria

Filho de minha alma!
E inacreditável Te olhar e ver onde chegaste. Foste galgando degrau a degrau, passo a passo, esta montanha de dor e de morte. Eu escutei a voz covarde de Pilatos Te condenando à morte. Te vi, Filho Amado, cair uma, duas, três vezes ao chão, sendo puxado brutalmente pelos soldados. O coração me saía pela boca, toda vez que olhava este Teu rosto único, todo desfigurado. Eu me perguntava se realmente eras Meu Filho. Se eras Tu, ou se era tudo um sonho.
Quando Tu me olhaste, a espada escondida no fundo da alma sangrou com uma dor que só uma mãe é capaz de suportar Eu Te vi chegar aqui neste Calvário. E ser desnudado sem pudor, e deitado neste leito duro, e golpeado nos Teus ossos, e levantado e posto entre o Céu e a Terra. E eu, sem poder fazer nada, Meu Filho...
Eu que Te vesti com roupas limpas, que Te deitava em berço fofo, que Te punha no meu colo e acariciava Teus cabelos, apertando-Te contra o meu peito. E agora, Tu estás deste jeito... Morto...
Procuro o Teu olhar e está vazio... Teus lábios, secos como a morte. Teu corpo, todo pesado e quase rasgando-se inerte... Onde estás, Meu Filho? Por que fazem isso com o Meu Pequeno? Tanta sanha, tanta ira contra Ti! Todos se acovardaram. Quase todos fugiram. Ficamos umas senhoras e João. Todos riam de Ti. Te trataram como um louco. Te cuspiram. Te coroaram como se fosses um rei delirante. E tu, és o Filho de Deus.
Volta, Meu Filho. Olha para mim. Espero a Tua última palavra. Eu sei que o Teu Pai não vai Te abandonar. Tens que voltar, Meu Filho! Já vem chegando os soldados. Vão Te tirar da cruz. Colocar-te-ão no sepulcro e esperarei. Esperarei até o amanhecer, quando um Novo Filho Meu me sorrirá e me trará a Paz.
Até lá, Meu Filho, fica crucificado no meu coração... Fica, Meu Filho... E eu prometo, curarei as Tuas feridas...

Pe Javier Mateo Arana, Páscoa de 1997.